Texto Básico: Mateus 4.1-11
“Que
darei eu ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito?”(Sl 116.12 )
INTRODUÇÃO
Um
dos mais sérios erros dos defensores da “teologia da prosperidade” é orientar
seus seguidores a barganharem com Deus, como se uma oferta ou um dízimo fosse o
suficiente para que Deus se tornasse nosso devedor. Muitos têm tratado estas e
demais contribuições como “investimentos”, como um “toma-lá-dá-cá”, como se
Deus se prendesse a gestos feitos pelos homens. Deus tem compromisso com a Sua
Palavra, portanto nada disso é previsto nas Escrituras como um laço que obrigue
Deus a enriquecer quem quer que seja. Na verdade, nossas contribuições
financeiras (sejam elas ofertas ou dízimos) são um reconhecimento de que já
fomos abençoados por Deus. Paulo deixa claro que Deus não deve nada a ninguém
(cf Rm 11.34-36). A pergunta de Paulo continua válida em nossos dias: “quem deu
primeiro a Ele para que depois possa ser retribuído?”. Nós contribuímos
financeiramente porque recebemos do Senhor primeiro, e não o contrário.
Precisamos entender que ninguém dá a Deus antes, para depois ser retribuído.
Muitos,
por estarem interessados apenas em milagres, curas e prosperidade material, já
não buscam a Deus pelo que Ele é. Na verdade, não querem conhecer a Deus, mas
somente barganhar com o Senhor. São condenáveis os “sacrifícios”, os “carnês” e
toda e qualquer espécie de contribuição financeira que é dada com o intuito de
estabelecer uma barganha com Deus. Certamente, essas pessoas estão incorrendo
num grande perigo: a perdição eterna. Deus nos concede suas bênçãos não porque
tenhamos algum poder de barganha, mas porque Ele nos ama e quer aprofundar o
seu relacionamento conosco.
I - A BARGANHA NA BÍBLIA
1. No Antigo Testamento. Um exemplo clássico de
barganha no Antigo Testamento é o caso de Jacó. Fazer um voto era um meio de
barganha, de troca entre os homens e a divindade, um “toma-lá-dá-cá“. Esta era
uma demonstração da cultura gentílica. E esta ideia de barganha entre o homem e
a divindade está por trás do primeiro voto mencionado na Bíblia, que foi o voto
de Jacó, feito quando de sua fuga para Harã: “E Jacó fez um voto, dizendo: Se
Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e
vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu
Deus; e esta pedra, que tenho posto por coluna, será Casa de Deus; e, de tudo
quanto me deres certamente te darei o dízimo”(Gn 28.20-22).
Vemos
neste voto de Jacó a ideia de “barganha” com Deus, algo que jamais se aprovou
nas Escrituras, mas que, infelizmente, está por detrás da grande e esmagadora
maioria dos votos que se fazem hoje na Igreja.
Jacó
agiu sob a influência cultural gentílica, não tinha ainda uma experiência com
Deus e pensou que o Senhor pudesse ser “comprado” com um voto. Na verdade, Jacó
barganhou por menos que o Senhor lhe havia prometido (cf Gn 28.14). Sua fé
ainda não era forte o suficiente para levar Deus a sério, de modo que Jacó
condicionou o pagamento do dízimo ao cumprimento das promessas do Senhor. Deus,
efetivamente, abençoou a Jacó, mas não foi por causa do voto que Jacó lhe fez,
e sim, por causa da fidelidade do Senhor às promessas que havia feito a Abraão
e a Isaque, promessas que, aliás, haviam sido renovadas, no sonho, pelo próprio
Deus a Jacó (Gn 28.13-15).
O
voto, enquanto barganha, enquanto “troca de favores”, é, portanto, algo que se
encontra totalmente fora de cogitação no relacionamento entre Deus e os homens,
ante a constatação de que Deus é soberano e que ao homem cabe apenas submeter-se
a este Deus Todo-Poderoso.
Mas,
se o voto não é barganha, o que é então? O voto é manifestação voluntária, ou
seja, a declaração de vontade de alguém que é dirigida a Deus, um Deus que fez
o homem com o direito de fazer escolhas e de expressar livremente a sua
vontade. Todavia, qualquer ideia de barganha é infrutífera.
Deus,
que é único, que é soberano e a quem pertence toda a Terra e tudo que nela há
(Sl 24.1;1Co 10.26), não é “comprável” com presentes. Aliás, abomina os que se
deixam levar por presentes (2Cr 19.7; Is 45.13). Se Deus é soberano, se tem o
controle de todas as coisas, por que haveria de se vender a um ser humano por
causa de um “voto”, de uma “promessa”?
2. Em o Novo Testamento. Um exemplo clássico de
barganha no Novo Testamento é o caso de Simão, o mago, que ofereceu dinheiro a
Pedro e a João em troca da capacidade de se conceder o batismo com o Espírito
Santo (At 8.18-21).
Simão,
o mágico, ficou extremamente impressionado com o fato de o Espírito Santo ter
sido concedido quando os apóstolos impuseram as mãos sobre os samaritanos.
Desprovido de qualquer entendimento acerca das implicações espirituais desse
acontecimento, Simão o considerou apenas uma demonstração de poder sobrenatural
que lhe poderia ser útil em sua ocupação. Assim, ofereceu dinheiro aos
apóstolos em troca desse poder. Esse ato insano de barganhar com Deus foi
rispidamente repreendido pelo apóstolo Pedro: ” O teu dinheiro seja contigo
para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não
tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de
Deus”. A resposta de Pedro indica que Simão não era um homem convertido:
a) O teu dinheiro seja contigo para perdição. Nenhum
cristão verdadeiro será entregue à perdição (João 3.16).
b) Não tens parte nem sorte neste ministério. Em
outras palavras, não fazia parte da comunhão dos santos.
c) O teu coração não é reto diante de Deus. Uma
descrição apropriada para uma pessoa que não é salva e que quer barganhar com
Deus.
d) Estás em fel de amargura e laço de iniquidade. Palavras
como essas não poderiam ser usadas para uma pessoa regenerada.
O
nome “Simão” deu origem à palavra moderna “simonia“, a tentativa de
comercializar coisas sagradas. A “simonia” inclui a venda de todas as formas de
comercio relacionadas a questões divinas. Hoje, é aplicada aos mercadores da
fé, que oferecem as bênçãos divinas mediante o pagamento de certa quantia em
dinheiro. O apóstolo Paulo via, com muita tristeza, o crescimento dessa
tendência mercadológica; para combatê-la, usou uma palavra cujo sentido é
“falsificar ou mercadejar a Palavra de Deus”. Isso envolve práticas de “simonia”
e adulteração da Palavra de Deus; é transformar o cristianismo numa prática
comercial, visando apenas interesses pessoais.
Atualmente,
uma das práticas que caracterizam a “simonia” é a da falaciosa “restituição“.
Esta prática ficou popularizada no cântico cujo refrão é “Restitui… eu quero de
volta o que é meu”. Esta prática é, também, uma fonte de dinheiro para muitos
inescrupulosos que, através de “campanhas de restituição”, têm levado multidões
a “exigir de Deus o que foi tomado, o que é meu” e, além de lhes causar a
abominação do Senhor, ainda por cima acabam tomando o que havia ficado, por
meio de ofertas e “sacrifícios”, habilmente solicitados nestas mesmas
campanhas. Irmão e amigos, nós não temos direito a nada! A própria expressão
bíblica exarada em Romanos 3.23 já diz tudo: “Porque todos pecaram e destituídos
estão da glória de Deus”Rm 3.23). O salário do pecado é a morte (Rm 6.23).
Somos salvos pela graça (Ef 2.8). Tudo que temos é por causa da graça de Deus.
Exigir de Deus algo que não merecemos é um acinte ao nome preciso do Senhor.
Ainda
há aqueles que, induzidos por certos pregadores (pregadores?), que desprezando
a soberania divina, passam a determinar seus “direitos” e a decretar suas
“posses” como se o Senhor lhes fosse um mero empregado. Isto é falta de
reverencia e temor a Deus.
Portanto
amados irmãos, não podemos compactuar com estas práticas de “restituição” e de
tudo o que envolva esta idéia, pois ela é pura e simplesmente manifestação de
rebelião contra Deus. Como sabemos, “… a rebelião é como o pecado de
feitiçaria… (1Sm 15.23). Que Deus nos guarde, pois os feiticeiros e os
idólatras ficarão do lado de fora da cidade santa (cf. Ap 21.8; 22.15).
Ao
acharmos que algo é “nosso”, que deve ser devolvido, estamos afirmando uma
ilusória independência do homem em relação a Deus, exatamente o que fez o
primeiro casal pecar e perder a comunhão com o Senhor. Ao invés de “querer de
volta o que é nosso”, devemos ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus,
que foi expresso pelo apóstolo Paulo numa das suas frases lapidares: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou
a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
3. As Escrituras condenam a barganha. Por tudo que
vimos nos dois itens anteriores, está claro que as Escrituras condenam a
barganha com Deus. A verdadeira prosperidade do povo de Deus como é ensinada na
Bíblia não é barganha com Deus, uma troca com Deus, eu dou 10 para receber 20,
não. Infelizmente, muitos estão indo atrás de Jesus não porque queiram ter vida
eterna, mas apenas para obter estas vantagens, que, a cada dia que passa, o
sistema econômico lhes vai negando. Querem não servir a Jesus, mas, sim, se
servir de Jesus e é precisamente esta a mensagem antropocêntrica da “teologia
da prosperidade”. Estas pessoas, como diz o apóstolo Paulo, são as mais
miseráveis criaturas humanas da face da Terra (1Co 15.19), porque, sabendo quem
é Jesus e o que veio fazer neste mundo, querem apenas dEle se servir para terem
bens e tesouros que nada lhes representará na eternidade. São pessoas que,
infelizmente, não seguem a doutrina de Cristo que, tão explicitamente exposta
no sermão do monte, nos manda ajuntar tesouros no céu e não na terra, pois onde
estiver o nosso tesouro, ali estará o nosso coração (Mt 6.19-21).
II. PRESSUPOSTOS DA “TEOLOGIA DA
BARGANHA”
1. A falsa doutrina do direito legal. A “teologia da
barganha” tem como pressuposto a doutrina do “direito legal” do crente. Esta
falsa doutrina tem como mentor Essek William Kenyon. Para ele, Deus ao
instituir o homem como seu mordomo, deu “direitos legais” ao homem, que foram,
com a queda, transferidos a Satanás que, “legalmente”, hoje domina a terra e a
criação terrena. Para ser mais explícito, Kenyon quis dizer que a queda do
homem foi um ato legal, isto é, Adão tinha o direito legal de transferir a
autoridade e o domínio que Deus tinha posto em suas mãos para as mãos de um
outro. Isto dá a Satanás o “direito legal” de ditar regras ao homem e à
criação. Isto quer dizer que Satanás faz parte da redenção do ser humano (cic).
A redenção seria uma fórmula pela qual Deus toma esses “direitos” de Satanás,
livrando o homem do seu domínio. É esta a ideia-mestra de todas as
“determinações”, “declarações” e “exigências” que caracterizam os “pregadores
do positivismo”.
No
entanto, tal pensamento não tem o menor respaldo bíblico. Deus nunca deixou de
ser o Ser Soberano, o Ser Supremo. Quando a Bíblia nos diz que o homem foi
constituído como ser que dominaria sobre as demais criaturas terrenas (cf. Gn
1.26-28), tal deve ser compreendido dentro do princípio de que o homem é
“imagem e semelhança de Deus”, ou seja, de que jamais o homem teria “direitos
legais” diante de Deus, mas o homem foi feito um “mordomo”, ou seja, um servo
que era superior às demais criaturas divinas, mas que não deixava de ser servo,
tanto que, ao conscientizar o homem de que ele era “livre”, Deus o fez por meio
de uma ordem (cf. Gn 2.16,17), deixando bem claro quem era a autoridade, quem
mandava e quem deveria obedecer.
2. A prática do determinismo. Esse é um dos
pressupostos usuais da “teologia da barganha”. A falaciosa “doutrina do
determinismo” insinua, dentre outras aberrações “teológicas”, que não é mais
preciso orar, e sim apenas “determinar”.
Para
os seguidores desta prática vergonhosa não se deve orar a Deus rogando a Ele
que faça “segundo a sua vontade”, e sim impor a nossa vontade a Deus. Isso vai
de encontro o que a Bíblia Sagrada nos ensina: “Esta é a confiança que temos
nele: que, se pedirmos alguma coisa, SEGUNDO A SUA VONTADE, ele nos ouve“(1João
5.14).
Hoje
temos visto falsos mestres ensinando que a oração da fé precisa determinar para
Deus o que queremos. Este falso ensino proclama que oração é a vontade do homem
prevalecendo no céu em vez da vontade de Deus prevalecendo na terra.
Analise
a estrutura da oração-modelo que o Senhor deixou -- o “Pai Nosso“(Mt 6.9-13).
Ela nos revela que não há lugar para o “EU” e nem para o determinismo
arrogante. Senão vejamos: “Pai nosso, que estás no Céu” -- nossa posição:
filhos de Deus; “Santificado seja o teu nome” -- nossa posição: adoradores;
“Venha o teu Reino” -- nossa posição: súditos; “Seja feita a tua vontade, tanto
na terra como no Céu” -- nossa posição: servos; “O pão nosso de cada dia dá-nos
hoje” -- nossa posição: dependentes; “Perdoa-nos as nossas dívidas” -- nossa
posição: pecadores; “E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”
-- nossa posição: fracos espiritualmente. Portanto, submissão à vontade de
Deus, e não imposição da nossa vontade a Deus é o alicerce da nossa confiança
na oração. Aliás, devemos temer orar por qualquer coisa que não esteja de
acordo com a vontade de Deus.
Devemos
estar cientes que Deus é soberano sobre tudo e sobre todos: “Porque os meus
pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus
caminhos”(Is 55.8). “O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino
domina sobre tudo. Bendizei ao Senhor, vós anjos seus, poderosos em força, que
cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra! Bendizei ao Senhor,
vós todos os seus exércitos, vós ministros seus, que executais a sua vontade.
Bendizei ao Senhor, vós todas as suas obras, em todos os lugares do seu
domínio! Bendizei, ó minha alma ao Senhor!” (Salmo 103.19-22). “E todos os
moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera no
exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a
mão, nem lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).
Em
fim, prosperidade segundo a Bíblia não é determinismo, e sim benção de Deus.
Porque sem a benção de Deus não há o que se falar em prosperidade. Sabe por
quê? “Porque a benção do Senhor é que enriquece, e ele não acrescenta dores”
(Pv 10.22). A prosperidade verdadeira consiste na bênção do Senhor. Quer sejamos
pobres, ou ricos, a presença e a graça do Senhor são o nosso maior tesouro.
III. O PERIGO DE BARGANHAR COM DEUS
1. O perigo de se ter um Deus imanente, mas não
transcendente. Deus é transcendente e imanente. Ou seja, a despeito de
habitar nas alturas mais insondáveis, e apesar de infinito e imenso, não
permanece alheio às suas criaturas. Assim, ao longo dos séculos, o Eterno vem
se comunicando com o homem, direta ou indiretamente. Ele tem prazer de ser
assim com o ser humano; é tanto que, após o pecado do homem, Ele proveu o
Cordeiro imaculado, Jesus Cristo, para através de sua morte vicária resgatar o
ser humano ao estado original da criação.
Embora
Deus tenha o prazer de atender ao ser humano em suas necessidades, não podemos
nos esquecer que Ele é soberano e está acima de toda criação. Deus é superior
ao homem e, portanto, o homem não pode querer esquadrinhar os Seus pensamentos
ou entender os Seus propósitos, a não ser pela própria revelação divina.
Conquanto
a natureza possa nos fazer inferir que haja um Deus, não permite que nós,
através dela ou da razão, possamos descobrir os mistérios e as profundidades do
pensamento divino, pois Deus é Deus e nós, meros homens. Ou seja, Deus é
transcendente -- Ele é diferente e independente da sua criação (ver Ex 24.9-18;
Is 6.1-3; 40.12-26; 55.8,9). Seu Ser e sua existência são infinitamente maiores
e mais elevados do que a ordem por Ele criada (1Rs 8.27;At 17.24,25).
Atualmente,
os teólogos adeptos da “teologia da barganha”, tentam, a bel prazer, priorizar
a relação de Deus com a criação, ignorando propositalmente a soberania e a
vontade de Deus. Ninguém deve, jamais, pensar que é merecedor de qualquer coisa
que parta de Deus. Isso deve se aplicar a todos os aspectos da vida do cristão,
desde o ar que respiramos, passando pela salvação provida na cruz, ou qualquer
outro benefício que venhamos a receber dEle (Tg 4.13-15).
Quando
vemos as promessas divinas, como ato soberano de Deus, temos motivos para nos
humilhar perante Sua potente mão e reconhecermos que não passamos de homens e
mulheres carentes de Sua graça. É uma pena que alguns cristãos não estejam se
apercebendo disso, resultando em excessos na oração e nas pregações. De vez em
quando, vemos e ouvimos pregadores que oram determinando bênçãos às vidas de seus
expectadores. Alguns, mais ousados, querem pôr Deus no “canto da parede”,
justificando, não poucas vezes, que Deus, ao prometer, não pode mais voltar
atrás, tornando-se, assim, escravo de Sua palavra. Tal ensino é um acinte à
soberania divina, uma verdadeira blasfêmia, que não ficará impune. Deus não tem
que dar satisfação a ninguém, a não ser a Ele mesmo. Ao assumir um compromisso,
como diz o a Bíblia em Isaías 55.10,11, assume um compromisso com Ele mesmo.
Deus é fiel, como dizem as Escrituras (1Co 1.9; 10.13; 2Co 1.18), ou seja,
cumpre a sua Palavra, não porque o homem passe a Lhe mandar, mas, sim, porque o
caráter de Deus diz que Ele não muda (Ml 3.6), é a verdade (Dt 32.4; Jr.10.10),
é Justo (Ex 9.47; 2Cr 12.6; Sl 11.7) e que, portanto, sua Palavra só pode ser
“sim e amém” (2Co 1.20). Certo teólogo afirmou que Deus “pode fazer tudo o que
quer, mas não quer fazer tudo o que pode”. Isto significa que o poder de Deus
está sob o controle de sua sábia vontade.
2. O perigo de se transformar o sujeito em objeto. Hoje
estamos assistindo ao fenômeno do mercadejamento da fé. A falaciosa “teologia
da barganha” tem, vergonhosamente, transformado a fé em um grande negócio
rentável e cada vez mais crescente. Isso tem trazido prejuízos enormes para a
Igreja do Senhor Jesus. Há pastores que transformam o púlpito em uma praça de
negócios, e os crentes em consumidores. São obreiros fraudulentos, gananciosos,
avarentos e enganadores. São amantes do dinheiro e estão embriagados pela
sedução da riqueza. Há pastores que mudam a mensagem para auferir lucros.
Pregam prosperidade e enganam o povo com mensagens tendenciosas para abastecer
a si mesmos.
A
briga por espaços na mídia tem sido assaz notória, vendendo uma ilusão de que
seus ministérios são aprovados por Deus, quando na verdade eles estão iludindo
uma parcela dos que cristãos dizem ser, que não entendem que essa atitude
mercantilista é reprovada por Deus. O Senhor em Sua Palavra, já nos primórdios
da fé cristã, já advertia os crentes que muitos seriam feitos negócio com
palavras fingidas de pessoas inescrupulosas (2Pe 2.3). Antes mesmo da formação
da Igreja, o profeta Ezequiel já indicara a existência de pastores infiéis, que
têm como objetivo tão somente explorar as ovelhas (Ez 34.4). Eles estão mais
interessados no dinheiro das ovelhas do que na salvação delas. Eles negociam o
ministério, mercadejam a Palavra e transformam a igreja em um negócio
lucrativo.
Vergonhosamente,
pastores e mais pastores estão se desvinculando da estrutura eclesiástica e
rompendo com suas denominações para criar ministérios particulares, em que o
líder se torna o dono da igreja. A igreja passa a ser uma propriedade
particular do pastor. O ministério da igreja torna-se um governo dinástico, em
que a esposa é ordenada, e os filhos são sucessores imediatos. Não duvidamos de
que Deus chame alguns para o ministério específico em que toda a família esteja
envolvida e engajada no projeto, mas a multiplicação indiscriminada desse
modelo é deveras preocupante. O meu maior desejo é que esses pastores
convertam-se dos seus maus caminhos, antes que seja tarde demais, antes que sua
mente fique cauterizada e a apostasia não mais ofereça lugar à piedade e a
honestidade (ler Pv 29.1).
3. O perigo da espiritualidade fundamentada em técnicas e
não em relacionamentos.Os adeptos da “doutrina da barganha” têm transformado o
relacionamento com Deus em algo meramente técnico e interesseiro. Segundo seus
ensinamentos, para se obter o que se deseja de Deus é preciso fazer quatro
coisas, as chamadas “regras da fé” ou “fórmulas da fé”, a saber:
a) confessar o que você quer.
b) crer que você tem aquilo que você quer.
c) receber o que você quer.
d) contar aos outros que você tem o que você quer.
De
pronto, observamos que a soberania de Deus não é levada em consideração. Tudo
gira em torno do que “você quer”, sem que se indague se o que se quer é o que
Deus quer. Desprezam a realidade de que, apesar de sermos filhos de Deus, somos
totalmente submissos à sua vontade e à sua soberania, como Jesus mesmo nos
ensinou na oração-modelo -- “o Pai nosso” -- e na sua oração no jardim do
Getsêmane (vide Lc 22.42); veja também 1João 5.14.
Temos,
portanto, mais uma vez, evidenciado que a “doutrina da barganha” diviniza o
homem, dá uma “roupagem evangélica” para o desejo pecaminoso de se ser
independente de Deus. Que Deus nos guarde de agirmos assim, pecando contra a
Sua soberania.
CONCLUSÃO
A
Bíblia não ensina a fazer-mos uma barganha com Deus, não somos ensinados a ter
que dar tanto para receber tanto. Deus não se condiciona aos nossos caprichos.
Quando nos abençoa é pela sua misericórdia e tudo que recebemos é por sua
infinita graça. Aliás, os “teólogos da barganha” conhecem pouco acerca da
doutrina da graça, uma doutrina tão defendida pelos reformadores. O Deus
Todo-Poderoso, que conhece tudo e que faz infinitamente mais do que pedimos ou
pensamos, está sendo trocado por, Aladim o gênio da lâmpada, que só é buscado
quando precisam de algum favor. Um Deus que tem que cumprir com todos pedidos
dos pregadores da Fé.
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